segunda-feira, 4 de maio de 2015

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Quando Camilo Castelo Branco escreveu esta obra, em 1879, fervilhava-lhe no cérebro um tédio nauseado provocado pela abundante literatura bucólica do século XIX. Por isso, todo o livro é uma sátira sarcástica mas bem-disposta a esse tipo de literatura em que os personagens parecem viver no jardim do éden, rodeados de borboletas coloridas, flores campestre e passarinhos de canto melodioso. Em vez disso, CCB descreve-nos a natureza minhota pejada de moscas, porcos e estrume. Em vez dos amores perfeitos de Júlio Dinis, CCB apresenta-nos as aventuras sexuais do padre Justino, gordo e sebento ou as investidas do José Fístula nos bordeis de prostitutas baratas de Braga, onde estudava para padre. Eusébio Macário é um boticário da região de Basto, no Minho profundo, que sabe de cor as mezinhas e remédios para todos os males. Mas é também um exemplo de sujidade, boémia saloia e devassidão.
Primeiro romance do moçambicano Mia Couto, já bem conhecido e apreciado pelo público português, "Terra Sonâmbula" tem como pano de fundo os tempos da guerra em Moçambique, da qual traça um quadro de um realismo forte e brutal. Dentro deste cenário de pesadelo movimentam-se personagens de uma profunda humanidade, por vezes com uma dimensão mágica e mítica, todos vagueando pela terra destroçada, entre o desespero mais pungente e uma esperança que se recusa a morrer. "Terra Sonâmbula" é um romance admirável, sem dúvida uma das melhores obras literárias que nos últimos anos se escreveram em português. Foi considerado um dos melhores livros africanos do século XX.

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